Classificação das Farinhas e Suas Aplicações na Panificação e Confeitaria
7/15/20253 min leer
📜 Contexto Histórico: A Evolução da Farinha
A moagem de grãos é uma das atividades mais antigas da civilização. Há registros de trigo sendo moído desde o Neolítico (~10.000 a.C.), com pedras manuais (mó de mão). Os egípcios e romanos já produziam farinhas de diferentes graus de refinamento, mas foi só a partir da Revolução Industrial (século XIX) que surgiram os moinhos de cilindro, capazes de separar com precisão as partes do grão e padronizar a farinha.
Isso permitiu o surgimento da classificação por extração, força, cinzas, tipo de moagem, etc.
A partir do século XX, o trigo passou a ser cultivado e selecionado conforme sua função tecnológica — panificação, confeitaria, massas, bolos etc.
🌾 Estrutura do Grão de Trigo (e sua importância na farinha)
O grão de trigo é composto por três partes principais:
Endosperma ~83%Rico em amido e proteínas (glúten
Gérmen~2,5%Fonte de lipídios e vitaminas E/B
Farelo~14,5%Fibra, minerais, vitaminas B
A farinha branca comum vem majoritariamente do endosperma.
Já a farinha integral inclui também o farelo e o gérmen, resultando em um produto mais rico em fibras, lipídios e micronutrientes.
🧬 Composição Química da Farinha
Amido - Estrutura da migalha (miolo), gelatinização na cocção
Glutenina e Gliadina - Formação do glúten → elasticidade, força, estrutura da massa
Enzimas (amilase, protease) Ajudam na fermentação e na extensibilidade da massa
Cinzas (minerais)Indicam o grau de extração → usado na classificação de tipos
🧪 Classificação das Farinhas de Trigo
🔹 1. Por Teor de Proteína (Força da Farinha)
A força da farinha está ligada ao teor de proteína (glúten potencial). Quanto mais forte, mais estrutura o pão terá.
Classificação Proteína:
Fraca7–9%W < 160Bolos, biscoitos, massas leves
Média10–11,5%W 160–250Pães de forma, pizzas, massas caseiras
Forte12–13,5%W 260–350Pães artesanais, fermentação longa, brioches
Manitoba13,5–15%W > 350Panetone, viennoiseries, panificação profissional
💡 A medida "W" representa a força panificável (Wheat Strength), medida em laboratório pelo alveógrafo de Chopin.
🔹 2. Por Grau de Extração / Cinzas (Europa e Brasil)
Na Europa (França, Itália, Alemanha), e também no Brasil, as farinhas são classificadas conforme o teor de cinzas (resíduo mineral após incineração de 100g de farinha).
Tipo Cinzas (%) Grau de Refino Uso Típico
Tipo 00~0,4%Ultra refinada - Massas finas, pizza, panificação italiana
Tipo 1~0,55%Levemente refinada - Pães franceses, confeitaria
Tipo 2~0,7%Semi-integral - Pães rústicos, fermentações longas
Integral1,2–1,5%Sem refino - Pães 100% integrais, saudáveis
No Brasil:
Farinha Tipo 1 (padrão) = para panificação geral
Farinha Integral = inclui partes do farelo e gérmen
Farinha Especial ou enriquecida = pode conter aditivos (melhoradores, vitaminas)
🔹 3. Por Finalidade Comercial
Tipo de FarinhaAplicações Principais
Farinha de Trigo Comum - Bolos, biscoitos, massas de preparo rápido
Farinha de Trigo para Pão - Pães de média a alta hidratação, fermentações longas
Farinha para Pizza - Alta absorção de água, ideal para fornos quentes
Farinha para Pastel- Textura crocante, fina, com menos glúten
Farinha de Trigo Durum (semolina) -Massas secas (macarrão, nhoque)
Farinha de Manitoba - Pães de longa fermentação, panetones, brioches
🚫 Farinhas Sem Glúten: Alternativas e Aplicações
Para quem tem doença celíaca ou sensibilidade ao glúten, as farinhas tradicionais de trigo devem ser evitadas. Nesse caso, usa-se:
Arroz - Amido leve, neutro - Bolos, pães leves, misturas
Mandioca (polvilho) - Rico em amido, sem proteína - Pão de queijo, biscoitos, pães leves
Grão-de-bico - Rica em proteína e fibra- Pães nutritivos, salgados, bases
Aveia (certificada sem glúten) - Fibra solúvel - Panquecas, cookies, pães funcionais
Sorgo, amaranto, quinoa - Nutricionalmente densos - Misturas com outras farinhas
💡 Normalmente, para simular a textura do glúten, é necessário adicionar espessantes e ligantes, como:
Psyllium husk
Goma xantana
Goma guar
Amido de milho
📌 Conclusão: Escolha da Farinha Certa Faz Toda Diferença
Entender as classificações da farinha é essencial para acertar na receita. A proteína define a estrutura, o grau de extração define o sabor e cor, e a moagem afeta a hidratação e textura final.
Um bom padeiro ou confeiteiro não usa qualquer farinha para qualquer receita. Ele escolhe com técnica e conhecimento — e isso começa conhecendo a origem, a composição e o comportamento de cada tipo.